Fica a conhecer um pouco mais sobre a Fajã da Nogueira, onde encontramos a Central Hidroelétrica e a Levada da Fajã da Nogueira.
Fajã dos Padres, Achadas da Cruz, Curral das Freiras são apenas alguns dos nomes de lugares recônditos na Madeira, micro paraísos dentro da tão popular pérola do Atlântico. O problema é que são cada vez mais divulgados e um certo turismo massificado pode prejudicar qualquer espaço. Felizmente há sempre lugares que são mais ignorados ou que não recebem tanta atenção. Um desses lugares é a Fajã da Nogueira.
Porque gostamos de celebrar o que há de melhor na Madeira, vamos dar-te a conhecer este local, com acessos muito restritos, mas onde a natureza surge na sua mais potente jovialidade. A Fajã da Nogueira é um lugar tão único, tão mágico que parece congelado no tempo, amarrado à pureza da vida selvagem da floresta Laurissilva.
Aqui conseguimos parar e respirar ar puro, deixar de pensar e fazer a mente desconectar-se de todos os nossos problemas. Poderás sentir os sons mais simples, mas também os mais potentes, não fosse a água que chega em força à Central Hidroeléctrica da Fajã da Nogueira. Vem conhecê-la connosco e perceber as razões pelas quais consideramos a Fajã da Nogueira uma das maravilhas da Madeira.
A recôndita Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira
No concelho de Santana encontramos a Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira, situada junto à Ribeira da Ametade, a 625 metros de altitude. Foi até aqui que viajámos para descobrir um pouco mais do coração da Ilha da Madeira. No mapa pode até ser fácil identificá-la, contudo a maior parte do percurso é em terra batida e nem todos os veículos conseguem lá chegar – os jipes 4×4 são as melhores opções.
No fim do percurso encontramos a central, a última a ser edificada na segunda fase do plano hidroagrícola iniciado nos anos 50. Operacional desde 1971, a Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira foi projetada pelo arquiteto Raúl Chorão Ramalho e, mesmo escondida, contribui anualmente para a produção média de 7 GWh de energia elétrica para toda a RAM. A central aproveita, por exemplo, a água da levada dos Tornos que, em tempos, tinha como finalidade regar os terrenos de Santa Cruz e do Funchal.
Dentro do estabelecimento temos muita maquinaria e um pequeno conjunto de pessoas que faz da Fajã da Nogueira a sua casa profissional. Não é fácil chegar aqui todos os dias, mas o destino vale a pena. Este é um paraíso sem igual, onde o verde das montanhas aquece os corações de quem trabalha na Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira. Nem todos se poderão gabar de trabalhar dentro da natureza e a favor dela.
Percurso Fajã da Nogueira ao Caldeirão do Inferno
Uma das nossas sugestões de trilhos é a viagem desde a Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira até ao Caldeirão do Inferno. Embora seja um percurso complexo e desafiante, mantém a ansiedade no nível mais elevado, algo que os aventureiros procuram. Deve ser feito com o máximo cuidado e com as devidas precauções porque é arriscado. Para fazê-lo bastará:
- Subir o caminho fora de estrada depois da central da Fajã da Nogueira. É um terreno inclinado que deve ser realizado por pessoas com experiência. Não te recomendamos a fazê-lo sozinho se não conheces esta zona;
- Passar pelo Montado do Sabugal, onde poderás apreciar as árvores tis (Ocotea foetens), uma espécie típica da ilha da Madeira, com mais de seis séculos de existência;
- Atravessar o túnel, um dos maiores da Madeira, com 2,5 km de extensão.
- Apreciar cascatas e lagoas que são de uma beleza envolvente no Caldeirão do Inferno.
Se quiseres, poderás fazer o percurso de regresso até à Fajã da Nogueira, com o mesmo cuidado. Há também quem faça o percurso da Levada do Caldeirão do Inferno à Levada do Caldeirão Verde, que são cerca de 2,2 km, também com vários túneis.
Mas atenção, estes são percursos mais adequados durante os meses de verão.
Meditação na floresta é possível na Fajã da Nogueira
Este nosso artigo é uma carta de amor à Fajã da Nogueira e, como tal, não poderia faltar o exemplo de quem vive todos os dias esta sensação de tranquilidade. Falámos com Ângelo Jesus, um dos inúmeros trabalhadores da E.E.M. – Empresa de Eletricidade da Madeira, aficionado pelo mundo da energia, mas também pela energia da natureza.
Não é preciso viajarmos até à Austrália para conhecer o paraíso dos hobbits, ou sonhar com ilhas imaginárias de King Kong. A Madeira aproxima-se a estes universos fantásticos, onde a natureza que mais do que medo impõe enorme respeito. Vejamos o que Ângelo Jesus tem a dizer sobre a Fajã da Nogueira e as razões pelas quais não pode ser esquecida pelos madeirenses.
Qual a função da Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira?
A principal função desta central é a produção de energia através da força da água. Esta é captada a aproximadamente mil metros nas montanhas do maciço central da ilha da Madeira. Uma vez turbinada, a água potável é distribuída pela rede pública, até chegar ao Funchal.
Este procedimento embora fácil de descrever tem toda uma maquinaria capacitada por detrás, além de uma equipa que, presencialmente, garante o seu normal funcionamento.
É curioso perceber até como decorre este processo. A produção de eletricidade na central da Fajã da Nogueira é possível através da utilização de água das ribeiras do Juncal e das Lajes pela Levada do Juncal, da ribeira da Fajã da Nogueira pela levadas da Serra do Faial e João Dias e da ribeira de São Jorge pelas Levadas do Pico Ruivo, Caldeirão do Inferno e Caldeirão Verde.
Explique-nos um pouco sobre qual é a sua função na Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira.
Estou responsável pelo grupo de trabalho aqui na Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira. Sou eletricista de formação, mas não comecei o meu percurso nesta central, gerida pela EEM – Empresa de Eletricidade da Madeira.
A central começou a operar em 1971, eu ainda era criança. Feitas bem as contas eu só aqui estou a trabalhar a tempo inteiro há 14 anos, mas tem sido uma experiência muito positiva. São anos dados a uma casa que passou a ser também a minha, onde nem preciso abrir as janelas para contemplar o jardim.
A Fajã da Nogueira parece ser o sítio mais recôndito da ilha da Madeira. Quanto tempo leva todos os dias a chegar até aqui?
Ora eu vivo no Funchal, portanto demoro aproximadamente 1 hora para chegar à Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira. Faço este percurso todos os dias! Gosto, no entanto, de levantar-me ainda mais cedo, para parar ao longo do trajeto, como espécie de exercício de contemplação. Gosto de apreciar aquilo que a floresta Laurissilva tem para me oferecer. Serão, talvez, os 60 minutos mais bem gastos da minha jornada.
Até chegarmos à Fajã da Nogueira o caminho faz-se de alguma terra batida, logo não pode ser realizado com um automóvel qualquer, nem podemos conduzir muito depressa. Pequenos inconvenientes que rapidamente são esquecidos quando relembro aquilo que terei no final do percurso. Um silêncio absurdo, uma calma que parece ter desaparecido deste planeta. É um sítio seguro, onde me sinto feliz.
Em seu redor tem uma forte presença de arvoredo. Consegue descrever em poucas palavras o quão impactante tem sido vivenciar isto todos os dias?
Sou realmente um apaixonado pela floresta, portanto é um privilégio. Montanhas, árvores, flores são das poucas coisas que precisamos para ser felizes, nem todos sabemos disso ou ganhámos consciência disso.
Podemos tratar do nosso trabalho na Central e sair à rua para ver a natureza, ver algumas trutas ou os patos no nosso pequeno lago. Vemos a vida selvagem a acontecer e damos-lhe outra importância.
Infelizmente, no inverno podemos ficar sem estrada de acesso à central, pelas chuvas que chegam a destruí-la. O inverno também exige uma presença física redobrada aqui na Fajã da Nogueira para ter a certeza que as coisas decorrem sem inconvenientes.
Quem trabalha nas grandes cidades tende a esquecer-se da natureza. O que precisa ser feito para reaproximar o verde das pessoas?
Não devemos perder as nossas atividades com o mundo rural, seja num simples passeio em parques, em idas à pesca ou atividades como a agricultura. Estamos cada vez mais desconectados da natureza, estamos ainda mais ligados a uma rede invisível que nos parece controlar a todos. Esquecemos que não podemos perder essa ligação com o mundo rural.
As sociedades urbanas estão afastadas da criação pecuária, da agricultura e penso que por vezes, nos nossos afazeres quotidianos esquecemo-nos que é da natureza que depende a nossa subsistência. A natureza é a nossa razão de ser. Se não houvesse tanta diversidade aqui na Madeira, onde estaria a civilização desta ilha?
É possível visitar a Fajã da Nogueira ou a área circundante?
O espaço envolvente pode ser visitado por qualquer pessoa e são muitos aqueles que o fazem, na tentativa de realizar a Levada da Fajã da Nogueira, através da qual é possível alcançar o Caldeirão do Inferno e o Caldeirão Verde.
Quanto à visita à central em si requer uma autorização específica do concelho de administração da E.E.M. – Empresa de Eletricidade da Madeira. O recinto à volta da Fajã da Nogueira é bastante elucidativo da experiência que nós temos todos os dias.
O que faz da floresta Laurissilva tão única e porque continua a atrair visitantes à Madeira?
A zona da central da Fajã da Nogueira é um lugar mágico, onde à nossa volta temos árvores com cerca de 800 anos. Toda a floresta é de uma variedade genética muito grande, temos muitos exemplares, o que a distingue de florestas monoculturais com predominância de eucaliptos, acácias ou pinheiros. Temos centenas de espécies diferentes que a tornam numa floresta dinâmica. No total, a floresta Laurissilva conta com 15.000 hectares e isso traduz-se em mais ou menos 20% da Ilha da Madeira.
Junto à Central Hidroelétrica da Fajã da Nogueira tem existido um certo trabalho de recuperação das árvores e arbustos de folhagem persistente característicos da floresta Laurissilva. Quando cá cheguei tinha algumas zonas com silvado e pragas que acabaram por ser eliminadas.
Nestes casos foram substituídas por exemplares da nossa flora como o pau-branco, o feto-de-botão, o aderno, entre outras. O nosso intuito é elucidar os visitantes a encontrarem alguns exemplares característicos da nossa floresta. Temos, por exemplo, exemplares de sequóias com mais de 50 anos de existência e que foram ali colocadas pela altura da inauguração da central. Podemos encontrar inclusive alguns animais comuns nesta zona como o pombo torcaz, o tentilhão, as mantas e os francelhos, que são aves rapina da nossa ilha.
Enfim, acho que isto permite aos vossos leitores perceberam um pouco do troço de floresta Laurissilva que encontramos. Os turistas que por aqui passam continuam à procura do desconhecido, porque o desconhecido é também um motivo de fascínio. As pessoas ficam fascinadas quando aqui passam, sobretudo quando oriundas de paisagens onde não existem montanhas. Visitar a área circundante da Fajã da Nogueira vale a pena para fugir de outros pontos turísticos com grande afluência de pessoas.
Através do nosso roteiro poderás conhecer os melhores espaços a visitar no arquipélago da Madeira. Fica a saber ainda qual a melhor altura para visitar a Madeira e o Porto Santo para organizares as tuas férias.
Fabuloso!!
E muito bem escrito.