Uma das recomendações cinematográficas do La Vida es Mara para este verão é “Paris Pode Esperar”, a estreia na ficção de Eleanor Coppola.
Diane Lane regressa ao género de “filmes sobre viagens” naquela que parece ser uma sequela espiritual da obra “Sob o Sol da Toscana”, de Audrey Wells. Desta vez, a aventura não se desenrola na Itália, mas sim na França, tratando-se de uma viagem leve, embora introspectiva, de uma mulher norte-americana, financeiramente estável, desde o sul desse país até à sua capital. Falamos de “Paris Pode Esperar“, que estreou nas salas portuguesas em 2017 com distribuição da Sony Pictures Classics, mas só agora, e graças à plataforma de streaming Filmin, tivemos oportunidade de ver aquele que foi o primeiro filme de ficção realizado por Eleanor Coppola, quando a matriarca da família de cineastas Coppola tinha 81 anos.
Quisemos partilhar contigo mais sobre “Paris Pode Esperar“, por uma série de razões. Não só pela intenção primeira de analisarmos um filme sobre viagens, mas também porque são muitas as vezes em que os nomes de Hollywood descobrem os locais que visitam aquando da realização de festivais de cinema pelo mundo fora. De facto, “Paris Pode Esperar” está diretamente relacionado com as viagens cinematográficas, sendo quase um hino para as nossas conversas sobre a sétima arte.
Anne, a personagem de Diane Lane é esposa do conceituado produtor de cinema Michael Lockwood (Alec Baldwin, num papel de um homem viciado em trabalho) que viaja até ao Festival de Cannes em negócios. Contudo, após uma insuportável dor de ouvidos, Anne é aconselhada a não viajar de jet privado até Budapeste, para onde segue o marido sozinho. É então que Anne decide seguir de carro até Paris, onde o casal havia planeado terminar as suas “férias”. A acompanhá-la nesta viagem temos o romântico monsieur Jacques (Arnaud Viard), sócio de Michael, mas que ao contrário deste é charmoso, atento e bem-disposto, sabendo aproveitar a vida a qualquer instante, e jamais confundindo trabalho com lazer.
Em vez de seguir numa viagem rápida pelas auto-estradas que percorrem o interior da França, Jacques está motivado em mostrar a Anne muito mais que bombas de gasolina ou estações de serviço. Decide então parar em cada aldeia, vilarejo e cidade, com o seu descapotável, para desfrutar do melhor que a França tem para oferecer, antes do fim da viagem na grande metrópole. Jacques tem um feeling que Anne não está a aproveitar aquilo que a vida após os 50 tem de melhor. Digamos mesmo que a narrativa de “Paris Pode Esperar” revela-se como conselho urgente para os amantes de viagens, e que vale a pena seguir. Afinal, nunca sabemos quando é que regressaremos ao país que estamos a visitar. É preciso aproveitar cada minuto e cada oportunidade que a vida nos coloca diante dos olhos, sejam quais forem as suas consequências e revelações possíveis.
“A tour de France” de Anne e Jacques acaba por ser uma viagem do próprio espectador pelos sabores do país e pela “comida que vem diretamente do jardim“, como diz Jacques a certo momento na história. Esta road-trip conquista-nos pela forma dos queijos, pela cor e pelo odor imaginável do vinhos e pelo esteticismo dos pratos dos restaurantes caríssimos, demasiado gourmet’s para serem desfeitos com uma simples garfada.
Enquanto festim de comida e de piqueniques junto ao rio, com vistas de cortar a respiração, “Paris Pode Esperar” funciona perfeitamente. Não se pede muito ao espectador, apenas que se sente e relaxe. Quanto ao seu valor artístico, “Paris Pode Esperar” não terá um lugar demarcante na história do cinema – como “Viagem em Itália”, de Roberto Rossellini -, mas nem é esse o propósito de Eleanor Coppola. Percebemos bem que Eleanor quer apenas contar a aventura de alguém que precisou de escapar à realidade ofegante que o mundo do cinema a fez passar, talvez numa reflexão sobre o seu papel enquanto esposa de Francis Ford Coppola. Afinal, ser esposa de um dos nomes mais importantes da indústria de cinema não foi tarefa fácil, como revelou em várias entrevistas ao longo da sua vida.
“Paris Pode Esperar” não é só semelhante a “Sob o Sol da Toscana” como parece ter algo de “A Viagem dos 100 Passos”, de Ol Parker; da “A Lancheira”, de Ritesh Batra; da série de filmes “The Trip”; ou até mesmo de “Meia-Noite em Paris” (2011), de Woody Allen. Quer o projeto de Woody Allen, quer a obra de Eleanor Coppola solidificam a França com espaço de re-descoberta de personagens relacionadas à sétima arte e que precisam de viajar para o país originário do cinema, e das próprias artes iluministas, para se conhecerem melhor e saberem finalmente o que precisam para as suas vidas darem certo.
Se Anne é uma apaixonada por fotografia, que vai congelando cada instante na sua pequena câmara, Jacques vive mais para a pintura e para os quadros de Monet ou Renoir que menciona várias vezes ao longo da trama. Tudo isto porque para Eleanor Coppola a arte rodeia-nos a todos os instantes, por muito que por vezes estejamos tão desatentos para notá-la.
Como referido antes “Paris Pode Esperar” tratou-se da primeira longa-metragem de ficção de Eleanor Coppola, esposa de Francis Ford Coppola, e documentarista conhecida de filmes como “Hearts of Darkness: A Filmmaker’s Apocalypse” (1991), sobre a rodagem da obra-prima, a.k.a. filme-pesadelo do seu marido: “Apocalypse Now”. Efetivamente, a história que conta com Anne, o seu alter-ego, é em tudo semelhante às suas vivências na Europa. Isto porque, em 2009, Eleanor foi com o seu marido até ao Festival de Cannes, onde também ela teve que ficar para trás enquanto o marido seguia para o leste europeu, em resultado de uma forte gripe. Foi então que um sócio do marido ofereceu-se para acompanhá-la até Paris, de carro, numa viagem que tardou quase 8 horas. Eleanor nunca revelou o nome desse sócio, nem se a sua viagem foi tão agradável como a de Anne em “Paris Pode Esperar”.
Por último, um pequeno comentário sobre as relações humanas e a forma como Eleanor as filma. Esta é uma obra de conciliação das personagens com as suas memórias, essencialmente de Anne com o seu papel de matriarca. Ao aceitar a passagem do tempo e o crescimento da sua filha, Anne começará a viver mais para si e a dedicar-se mais aos seus projetos.
Segue com a leitura deste artigo para conheceres o guia turístico de “Paris Pode Esperar” e o significado que Paris tem para história. Clica aqui caso queiras assistir ao trailer do filme.
Significado de Paris em “Paris Pode Esperar”
Paris a cidade das luzes, a cidade de filmes como “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001), “Antes do Anoitecer” (2003) ou “Meia-Noite em Paris” (2011) sempre foi um dos locais preferidos para rodagem de filmes e séries. É uma cidade com um toque de passado, mas sempre aberta para o futuro. Romantizada, Paris parece transmitir paz e tranquilidade aos amantes das artes. Porém, em “Paris Pode Esperar“, a cidade não assume qualquer protagonismo, por muito que o seu nome surja no título.
Aqui, Paris é ocultada pelos restantes locais que Anne e Jacques visitam, que também fazem parte daquele país, e são algumas vezes esquecidos pelo cinema mainstream. Paris é sinónimo de fim da viagem, ou seja, em vez de ser escape como são os vilarejos percorridos pelo casal protagonista, é um espaço de retorno à vida real. Anne, pouco a pouco, vai perceber que Paris não é mais do que o evidente regresso à sua vida de esposa, na sombra do seu marido workaholic. Paris não é liberdade, é o sufoco que a impedirá de se questionar existencialmente, pois passará a estar subjugada ao conforto da classe burguesa que integra.
Anne vai precisar de viver mais tranquilamente, com maiores desvios na sua vida, sejam estes nas aforas de Paris, ou nas redondezas da sua Califórnia.
“Paris Pode Esperar”: Guia Turístico
Para os fãs de uma encantadora road-trip do sul da França até Paris, apresentamos-te os diferentes locais visitados por Anne e por Jacques ao longo dos três dias de viagem de “Paris Pode Esperar“.
Se tiveres mais tempo poderás parar por outros locais e provar outros pratos e vinhos seculares, que não apenas aqueles apresentados na obra de Eleanor Coppola. E não te esqueças: parar para desfrutar de um local específico talvez seja mais importante do que apressar-se para chegar ao destino.
Cannes
Cannes é o ponto de partida do filme “Paris Pode Esperar” e não vemos muito da cidade. Temos apenas, na sequência inicial, uma curta panorâmica sobre a Riviera Francesa, desde um hotel que certamente gostarias de visitar.
Caso visites esta região, recomendamos-te hotéis como o Five Seas Hotel ou La Bastide de l’Oliveraie, onde conseguirás fantásticas panorâmicas sobre a cidade. Poderás também reservar excursões, visitas guiadas e outras atividades em Cannes online.
Ponte de Gard
Após saírem de Cannes, a primeira paragem de Anne e Jacques é a ponte de Gard, uma parcela do antigo gigantesco aqueduto romano, construído aproximadamente no século I a.C. O objetivo do antigo aqueduto era permitir que a água chegasse de Uzès até Nîmes, percorrendo assim uma distância de quase 50 km.
A ponte de Gard tem 49 m de altura, e 275 m de comprimento e continua tão bem conservada que é considerada Património Mundial pela UNESCO. É precisamente neste local que Anne e Jacques começam a conhecer-se melhor e a estabelecer uma bela amizade.
Vienne
A comuna francesa de Vienne na região de Auvérnia-Ródano-Alpes é onde Jacques e Anne pernoitam pela primeira vez durante a sua road-trip. Nesta cidade que era colónia romana, é possível visitar algumas ruínas e deliciar-se com um excelente pequeno-almoço tipicamente francês com croissant, acompanhado de café, chocolate quente ou chá.
Se passares por este local não te esqueças de visitar o Templo de Augusto e Livia, o Parque de Cybèle, a catedral de Vienne, ou o Teatro Romano, onde anualmente decorre o Festival de Jazz de Vienne.
Lyon
No sudoeste da França, Anne e Jacques visitam Lyon, a cidade “coração de França” como diz o bon-vivant Jacques. Entre os principais destaques da cidade de Lyon encontramos as suas delícias gastronómicas, uma vez mais ideais para aqueles que têm a carteira demasiado pesada. Ironicamente, é em Lyon que Anne prova aquilo que menos gosta: caracóis. Aproveita e reserva já a tua excursão por Lyon.
Em Lyon, Anne descobre as maravilhas do nascimento da sétima arte no Museu do Cinema e da Miniatura, onde observa de perto o cinematógrafo, a primeira câmara-projetor da história do cinema criada pelos irmãos Lumière e que foi utilizada na primeira exibição de filmes ao público, que ocorreu a 28 de dezembro de 1895.
Para entrar neste museu Anne não pagou nada, mas qualquer outra pessoa adulta teria que pagar 9 euros. Já os estudantes e reformados pagam 8 euros. Além do Museu do Cinema e da Miniatura, Anne e Jacques visitam o Museu de Tecidos e Artes Decorativas de Lyon, onde se encontram mais de 2,5 milhões de peças, entre as quais bordados de tela, tapetes e vestidos provenientes de vários cantos do mundo como Egipto, Japão, China ou Itália.
A poucos quilómetros de Lyon encontrarás também a cidade de Angoulême que serviu de inspiração para Wes Anderson no seu novo filme “Crónicas de França”.
Vézelay
Depois de discutir com Jacques por tantos desvios na viagem para Paris, Anne acaba por arrepender-se e sugere que visitem juntos a bela Vézelay, na Borgonha, para conhecer o centro histórico e a famosa Basílica Românica de Santa Madalena, do século XI.
O que deveria ser uma estadia curta, acaba por demorar, e Jacques e Anne chegam mesmo a comer num dos melhores restaurantes de Vézelay, de nome Cabalus, rodeados por arcos góticos.
Paris
Paris pode mesmo esperar, sendo o último local visitado por Jacques e Anne. Mesmo assim, esta não é a Paris onde é possível contemplar o Moulin Rouge ou a Torre Eiffel, porque a chegada à cidade das luzes acontece na escuridão das 3 da madrugada. Paris consegue esperar até no roteiro do filme de Eleanor Coppola.
Se tiveres interesse em visitar a capital francesa com a tua cara-metade, aconselhamos a leitura do artigo do artigo Passeios Românticos em Paris do blog Descobrir Viajando.
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Paris Pode Esperar: Ficha Técnica
Título original: Paris Can Wait
País de Produção: EUA/França
Ano de Produção: 2016
Estreia em Portugal: 29 de junho de 2017
Realização: Eleanor Coppola
Produção: Eleanor Coppola, Fred Roos, Marie Masmonteil
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Obrigado pela matéria. Procurei exatamente por isso. Abraços do Brasil!
Que bom, Vanio! Muito obrigada e abraços de Portugal
Filme maravilhoso, assisto sempre. Gostaria de saber o nome do restaurante onde eles jantam e o ator pede de sobremesa “mamilos de Vênus”
Olá, Maria! Infelizmente não conseguimos encontrar o local exato onde foi filmado essa cena”. Um dos restaurantes do filme foi o Daniel & Denise, localizado em Lyon. De qualquer forma os Mamilos de Venus (Capezzoli di Venere ou Nipples of Venus) são muito comuns na cozinha francesa não serão fáceis de encontrar em diferentes cidades!
Matéria interessantíssima e muito enriquededora sobre este lindo filme! Me despertou a vontade de fazer este belo roteiro. Fiquei surpresa e encantada também ao saber sobre a diretora! Muito obrigada!